70 anos do Círculo Operário em Caicó

Em Caicó o Círculo Operário foi fundado em 08 de março de 1951, dezenove anos depois da fundação do primeiro Círculo do Brasil, passando anos depois a ser chamado Círculo de Trabalhadores Cristãos de Caicó. Nos dias de hoje atravessando mais de sete décadas de existência seu fundador foi Dom José de Medeiros Delgado e seu primeiro Presidente Valeriano Morais. Ao longo dos anos objetiva formar uma organização forte e perfeita para dignificar o trabalho e prestar assistência social aos seus associados.

Em Caicó, os operários se organizavam em movimentos a fim de defender seus interesses e direitos trabalhistas. O então Bispo de Caicó, Dom Delgado, preocupado com a classe operária que não media esforços na busca de dias melhores, promoveu encontros com os trabalhadores pretendendo incorporar o circulismo na região do Seridó. O Bispo convida vinte e cinco operários liderados pelo carpinteiro Valeriano Morais para fundar o movimento na referida cidade, sendo o Padre João Agripino o assistente eclesiástico do movimento. No dia 08 de março de 1951 foi fundado de fato o Círculo Operário de Caicó nas instalações da Escola Prevocacional.
Em 1953 o movimento recebeu como doação da Prefeitura Municipal de Caicó, gestão do Prefeito Dr. Rui Mariz, um terreno medindo 40×30 metros para a construção da sua sede social. Com doações voluntárias de Deputados, Senadores e empresários chegam às verbas para o início da construção, sendo construído inicialmente um salão para eventos, três salas, duas áreas cobertas e três banheiros.
No dia 09 de agosto de 1968, o Poder Legislativo do Rio Grande do Norte declarou o Círculo Operário de Caicó como uma entidade de utilidade pública. A Lei de n° 3.639 publicada no Diário Oficial do Estado aos 13 de agosto de 1968 foi sancionada pelo Governador Walfredo Gurgel resguardando e isentando o Círculo de certos tributos.
O movimento circulista começou na cidade de Caicó forte atendendo aos critérios da Igreja Católica, contribuindo de forma atuante para a formação espiritual e comunitária, promoção da comunidade e o despertar do operário para o espírito de liderança. Desde sua fundação, assim como os outros, o Círculo de Caicó nasceu na Igreja Católica, sendo pautada no humanismo, solidariedade e ajuda ao próximo. Teve papel fundamental no cenário operário, promovendo campanhas pelo movimento, ajustes salariais, estabilidade, assistência médica, desenvolvendo ações educativas entre outros.
A sede social foi inaugurada ao 01 de maio de 1956, dia do trabalhador, com a presença do Senhor Bispo Diocesano Dom Adelino Dantas, Prefeito de Caicó, delegado de polícia, diversos seguimentos da sociedade caicoense e um grande número de homens e mulheres operários. Assim como as outras associações o Círculo é composto de uma diretoria, com presidente e vice; secretario e vice; e tesoureiro e vice. O que diferencia de outros movimentos é o cargo de Assistente Eclesiástico como membro da diretoria. Esse cargo e suas funções são atribuídos pelo estatuto do movimento circulista.
O Círculo de Caicó trabalhou muito pelos direitos das mulheres seguindo as Orientações da Confederação Brasileira dos Trabalhadores Cristãos, visando solucionar a problemática da mulher trabalhadora, em todos os aspectos sociais e profissionais, incentivando assim toda e qualquer atividade que favoreçam as mulheres circulistas.
No Círculo Operário de Caicó funcionou um Escola de artes em 1968, onde se trabalhava o ano inteiro com bordados, pinturas, crochê e confecção de flores e enfeites natalinos para que no final do ano fosse tudo colocado em exposição no próprio círculo. Cursos realizados naquele espaço, nessa ocasião o curso de Bolos ministrado pela professora Jurací de Quirino no Círculo Operário de Caicó na década de 1960. Em Caicó diversos foram os cursos e incentivos as mulheres sócias ou dependentes. Dentre as mulheres destacamos Lurdinha Morais, Catarina Brasil, Celita Medeiros, Rosinha, Professora Luzia, Eufrásia Araújo e as irmãs Tavares. Na década de 60 fundaram-se cursos de bordados, cursos de arte culinária, cursos de bolos para as mulheres circulistas, funcionando também o curso primário e curso de admissão sob o convênio com a Prefeitura Municipal de Caicó direcionado a crianças, jovens, adultos, mulheres. A Escola Profissional de Caicó iniciou seus trabalhos na residência de Catarina Brasil e logo após se instalou no Círculo.
Ações como cursos de aperfeiçoamento e atendimento médico foi o que mais chamava a atenção dos que do Círculo se aproximavam. Outros na busca de direitos trabalhistas bem como salários dignos e direitos que assegurasse a aposentadoria. Esses operários ingressavam no movimento na perspectiva de terem um auxílio jurídico e um apoio perante aos patrões.

Outra ação social do Círculo Operário de Caicó era assistência as famílias que não tinham moradias próprias. No ano de 1956 segundo depoimento de uma ex-sócia o movimento acolheu uma família em sua sede social até o ano de 1987. A família do carpinteiro e agricultor José Tavares da Silva foi contemplada com a moradia gratuita na sede social já que a família não possuía casa própria.
A esposa do referido carpinteiro, Dona Marina e suas cinco filhas: Severina Tavares, Tereza Tavares, Maria Tavares, Terezinha Tavares e Ana Tavares, guardaram a sede social como residência quase 30 anos, sendo zeladores e pessoas que junto à diretoria do movimento construíram a história do movimento circulista em Caicó. Sobre o senhor José Tavares da Silva o Jornal a Voz Operária traz em sua edição de número 13, página 02, publicada em março de 2001 uma justa homenagem relatando que:

José Tavares foi um circulista que mais viveu a caminhada do CTC – Caicó – RN. Por ter morado durante vários anos na sede social com toda sua família. O mesmo viveu todos os momentos de glória, de luta, de progresso e de sucesso. Sentiu também na pele o enfraquecimento do movimento circulista depois da criação dos sindicatos específicos de cada profissão. Foi feliz porque atingiu a idade de 102 anos sendo circulista. A ele, o nosso reconhecimento e agradecimento pelo seu incansável trabalho em prol do Círculo de Trabalhadores Cristãos de Caicó.

Durante quase trinta anos a família Tavares atuou junto ao Círculo Operário participando ativamente da diretoria e das decisões do movimento Operário naquela cidade. Ao lado da diretoria, o Senhor José Tavares e suas filhas idealizaram festas comemorativas que movimentaram sócios e dependentes. Famosas festas juninas foram realizadas com o propósito de integrar o grupo e ao mesmo tampo angariar recursos financeiros para a tesouraria da associação.
Neste sentido o Círculo Operário de Caicó divulgou vários eventos recreativos e comemorativos que visavam além de garantir o entretenimento dos circulistas, atrair novos trabalhadores para suas fileiras católicas. A divulgação de tais eventos nos Jornais e programas radiofônicos caicoense e o aval da Igreja Católica contribuía para o progresso e fortalecimento do movimento.
Eram oferecidos incentivos para que o operário se engajasse nas fileiras do movimento circulista. Uma vez consolidado o canal para atrair os sócios, era necessário doutrinar os operários na perspectiva de formar novos líderes que difundiria posteriormente a doutrina social da Igreja entre a classe trabalhadora.
Durante esses mais de 70 anos de atuação, o então Círculo de Trabalhadores Cristãos de Caicó, teve na presidência: Valeriano Morais, primeiro presidente que administrou o Círculo de 1951 a 1958, depois veio Vicente Modesto que administrou de 1959 a 1962. Anos depois Valeriano Morais volta a administrar o movimento de 1963 a 1965, logo após veio Luiz de França que administrou seu primeiro mandato de 1966 a 1973, Valeriano volta novamente e administra seu último mandato de 1974 a 1980. O circulista Luiz de França ainda governou mais dois mandatos, sendo um de 1981 a 1985 e o último de 1989 a 1999
O carpinteiro Luiz de França de Oliveira foi o presidente que mais presidiu o Círculo Operário de Caicó em diversos mandatos em um total de 23 anos. No Jubileu de ouro do Círculo de Trabalhadores Cristãos, seu Luiz como é mais conhecido foi homenageado com a comenda Dom José de Medeiros Delgado sendo seu nome escolhido para a nova área de lazer construída na sede social.

Nos anos de 1985 a 1987 administrou o Círculo José Ribamar de Medeiros. Um fato curioso foi à participação de duas mulheres na diretoria do Círculo Operário. No dia 01 de maio de 1987, festa do dia do trabalhador foi endossada a cabeleireira Zulina Maria da Silva como a primeira mulher a frente do movimento circulista de Caicó tendo como sua vice à funcionária pública Maria Goretti da Silva. Esse mandato durou até o ano de 1989.
De 1999 até o ano de 2021 esteve à frente do Círculo Agostinho Francisco dos Santos o qual durante seu mandato promoveu campanhas para aumentar o número de sócios além de revitalizar o movimento através de cursos profissionalizantes, seminários, assistência médica e ambulatorial entre outras ações com o objetivo de manter o movimento atuante na cidade de Caicó.
Nas mais de sete décadas percebe-se que o Círculo Operário da cidade de Caicó ainda permanece em atuação. Na fala do então Presidente Agostinho dos Santos acima citado, ele deixa claro que o Círculo passou 24 anos desativado, mas percebemos nas atas da instituição que durante esses 70 anos, o mesmo permaneceu atuante mesmo quando essa atuação foi tímida.
Em contato com as atas referentes às reuniões do Círculo Operário, analisamos atas dos últimos 50 anos. Embora as ações sociais tenham diminuído consideravelmente durante as décadas de 80 e 90, vemos uma diretoria formada, atuando com um número mínimo de circulistas.
Nas décadas de 50, 60 e 70, o Círculo Operário da cidade de Caicó atuou com ações educativas, sócios culturais, programas de rádio, assistência médica e odontológica e uma efetiva ação junto aos sindicatos.
Essas ações eram oferecidas rotineiramente aos sócios e dependentes visando o bem estar dos que no movimento militavam. O principal objetivo do Círculo é o desenvolvimento do operário, devendo lutar pela igualdade e dignidade das famílias, lutando por salários justos, direito de férias, reforma agrária justo, direito a propriedade privada e cooperativas rurais.

Nos primeiros anos do século XXI o Círculo de Trabalhadores Cristãos de Caicó visando uma reaproximação com a classe operária angariando novos sócios tentou implantar ações sociais e vantagens para que o trabalhador e seus familiares ingressassem no movimento circulista.
O meio de comunicação do Círculo de Caicó era o Informativo A voz operária distribuído mensalmente aos sócios. A atual direção tendo à frente Francisco Agostinho dos Santos revitalizou o programa de rádio A voz operária realizado aos sábados na Rádio Rural de Caicó. O programa é um meio de levar as informações do movimento operário aos ouvintes principalmente aos circulistas.
Em 2000, a diretoria do Círculo reorganizou o movimento juventude circulista, a fim de desenvolver com os jovens um trabalho de conscientização política, social e cultural, visando à formação de novas lideranças para fortalecer o Círculo de Trabalhadores Cristãos.
O Circulo assinou em 2009 um contrato com a UNIMED – Caicó para que associados possam ter direito ao atendimento de urgência no Pronto Atendimento do referido plano de saúde, além de usar de outros serviços como o desconto em consultas médicas e exames diversos.

Além dos serviços ambulatoriais, o Círculo também firmou parceria com ambulatório odontológico. Na tentativa de melhorar a associação buscou-se promoções, criação de grupos de jovens e idosos, lazer e muitas outras ações que suscitasse o incentivo aos sócios veteranos e aos que desejasse entrar nas fileiras do circulismo.
Para as mulheres foi criada uma secretaria especial com o objetivo de organizar o movimento das mulheres circulistas para lutar pelos seus direitos. Outro incentivo foi à criação do clube de mães. Além de reuniões semanais do clube, acontece também o curso de pintura em tecido, crochê e ponto cruz. O grupo objetiva produzir seus trabalhos e vender em exposições na própria instituição e em feiras de artesanato. Nessa perspectiva de vendas a diretoria do Círculo construiu em sua sede social uma loja destinada aos trabalhos manuais do grupo de mulheres.

Outro serviço oferecido as mulheres circulistas foi à criação de uma pastelaria nas instalações da sede social com o objetivo de reunir mulheres para a prestação de serviços à comunidade caicoense. De início a diretoria conseguiu recursos financeiros para a instalação da cozinha e compra de equipamentos, logo após foi oferecido cursos profissionalizantes para dezenas de mulheres. Depois de alguns meses funcionando a pastelaria fechou por falta de voluntários e recursos para sua manutenção.
A fundação do Círculo Operário da cidade de Caicó foi tardia assim como a fundação do primeiro Círculo no Rio Grande do Norte. A ideia de fundar na cidade de Caicó um movimento circulista trazia para os operários o desejo de significativas mudanças em um período angustiante onde o capitalismo individual, mercantil e industrial esmagava as estruturas anteriores. Nessas décadas de 30 a 60 percebemos o Círculo muito mais atuante do que hoje, com a participação das massas trabalhadoras que buscavam a defesa do trabalho digno, humano e com salários justos. O saudoso Monsenhor Ausônio Tércio de Araújo foi Assistente Eclesiástico do Círculo de Trabalhadores Cristãos de Caicó há mais de 40 anos. Em sua fala através do Informativo A voz operária, Número 13 publicado em Março de 2001 na ocasião do jubileu de ouro da instituição circulista de Caicó, sobre o Círculo Operários e sua atuação desde 1951. Padre Tércio explana a resistência do movimento em Caicó que apesar de sofre perseguições e dificuldades mantém-se ainda em atuação efetiva na capital do Seridó. O Assistente Eclesiástico deixa claro que:

Os Círculos, pelo Brasil afora procuram formar cidadãos que saibam dirigir seu destino, viver Democracia. E assim, com o apoio do grande líder social que foi D. José de Medeiros Delgado, 1° Bispo de Caicó, também a nossa cidade foi criado um Círculo Operário em 1951. Daí em diante são 50 anos de realizações, anos de incompreensões, apoios e perseguições, também. Nele encontraram abrigo os nascentes sindicatos rurais do Seridó, os sindicatos urbanos, movimentos de preparação de mão de obra, cursos de politização, liderança, Doutrina social da Igreja. Outras organizações morreram, dobraram-se, mas o Círculo, apesar de momentos de eclipse continua como farol, como ponto de referência, como ambiente operário, como casa da verdadeira liberdade.

O Círculo de Caicó sobrevive 70 anos de vitórias e de fracassos, de alegrias e de tristezas, inventando e reinventando na perspectiva de um movimento que forme o associado politizado para que lutes pela melhoria da classe operária. Com a euforia dos movimentos operários que surgiam no final do século XX o Círculo de Caicó teve a oportunidade de nascer forte e caminhar concretizando objetivos. No percurso trilhado nos dias de hoje percebemos que o movimento ainda está vivo contribuindo para a formação do trabalhador e tentando oferecer mesmo com poucas estruturas financeiras e humanas um Círculo comprometido com as diferentes classes, cores e credos no intuito de dignificar o trabalho e prestar ao associado pelo menos o mínimo de assistência em defesa da cultura moral, intelectual, social e física do trabalhador Caicoense.

VEREADOR ANDINHO DUARTE @andinhoduarte
Pedagogo e Bacharel em História

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