Com experiência de quem lida há muitas décadas com a questão de recursos hídricos, o geólogo Paulo Lopes Varella Neto foi indicado pela governadora para coordenar o grupo de trabalho que definiu uma série de ações destinadas a amenizar os efeitos da seca no Rio Grande do Norte. Paulo foi diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), de abril/2009 até junho/2017. Conhece como poucos, o projeto da transposição que traz água do Rio São Francisco para as regiões de maior vulnerabilidade hídrica do Semiárido nordestino.
Nesta entrevista, ele detalha as medidas adotadas pelo Governo do Estado, fala da chegada da água da transposição ao RN, explica a importância de declarar situação de emergência e destaca o planejamento que vem sendo feito nos últimos anos para enfrentar o problema.
Qual a diferença deste para outros períodos de seca no RN?
Nos últimos tempos, o governo está fazendo um grande esforço para que a gestão de recursos hídricos no Semiárido possa evoluir de uma gestão de crise com soluções emergenciais, para uma gestão de risco calculado, baseada no planejamento. Fazer essa gestão no semiárido é, acima de tudo, planejar e prevenir com antecedência. Nós ainda somos a civilização da açudagem. No fundo, nós vamos continuar fazendo a gestão dos nossos açudes. É preciso armazenar para transportar água no tempo. E é preciso distribuir no espaço. Armazenar nos nossos reservatórios, nos nossos açudes, nos meses que chovem, para que possamos ter água nos meses que temos incerteza das quadras chuvosas. Por outro lado, é preciso distribuir por um conjunto de adutoras que possam tirar água desses reservatórios e levar para casa das pessoas.
Qual a situação dos reservatórios? Os dados do IGARN/ANA indicam que temos armazenados 2,28 bilhões de metros cúbicos, 44,2% da capacidade. No ano passado, nessa mesma época, o volume correspondia a quase 70%.
O ano de 2025 está sendo desafiador porque a recarga dos açudes foi muito baixa. Com exceção de dois reservatórios – Dinamarca e Riacho da Cruz – todos os demais estão em situação pior do que estavam no passado. Isso nos desafia, mas não nos surpreende.
A presença de seca ou de estiagens prolongadas não deve, nem pode ser uma surpresa para quem faz gestão do Semiárido. Nessa linha, na medida em que o nosso monitoramento do dia a dia nos mostrou que a recarga seria insuficiente, a governadora Fátima Bezerra determinou a criação de um comitê que se dedicou a planejar e a ver que ações precisavam ser feitas para que a convivência natural nesse período de seca pudesse ser efetivada.
Nesse sentido, principalmente o sistema Semarh, o da Agricultura e o da Defesa Civil se juntaram para ver quais ações seriam necessárias nesta convivência no momento de estiagem de baixa recarga dos nossos reservatórios. Então, algumas ações foram determinadas. Primeiro, ações não estruturais na área de recursos hídricos, fazer valer cada gota d’água que nós tínhamos armazenada nos reservatórios. E para isso é preciso monitorar, fiscalizar, fazer a locação negociada de água com todos os usuários.