O Turismo religioso do Rio Grande do Norte foi tema de debate, na tarde desta terça-feira (18), na Assembleia Legislativa, em audiência pública proposta pela deputada Divaneide Basílio (PT). O evento aconteceu no Salão Nobre da Casa, reunindo representantes do trade turístico do Estado, além de representantes de igrejas, religiões de matrizes africanas, empresários e sociedade civil organizada.
“Esse tema, para nós, não é secundário. Ao contrário, ele é muito importante, pois sabemos o seu significado para a Economia, a Cultura e a Fé dos norte-rio-grandenses. E a crença não pode ser dissociada da identidade do seu povo e do seu lugar”, destacou a parlamentar.
A deputada ressaltou também a luta dos povos de matrizes africanas, para que seus monumentos sejam reconhecidos. “Então, no encontro de hoje, queremos dar visibilidade aos locais que já existem, mas também, pensar em alternativas de valorização do que passa despercebido pelos empresários e turistas”, acrescentou.
Iniciando os discursos da Mesa dos Trabalhos, Rosângela Sá, presidente da Associação Alto do Bom Jesus (Abomje), de Touros, frisou que a referida audiência pública já era um momento histórico, por se estar discutindo a área turística religiosa do Estado, “já que é difícil reunir tanta gente em torno do assunto”.
De acordo com Rosângela Sá, o monumento tão sonhado pelo povo de Touros está perto de sair do papel. “Eu apresento a vocês o monumento ‘Alto do Bom Jesus dos Navegantes’, idealizado e pensado por muitas pessoas. Nós já temos 1 milhão de reais, mas isso não é muito, porque o total dele será em torno de 15 milhões”, disse.
Segundo a presidente da associação, o projeto terá, de extensão de cruz, 59 metros de altura e 28 metros de largura.
“Além disso, serão 17 metros de extensão entre as mãos de Cristo. Ainda estamos em orçamento, finalizando a engenharia estrutural, mas já contamos com o apoio do deputado federal Benes Leocádio, que creditou o valor de 500 mil reais, no ano passado. E há a previsão de mais 500 mil para este ano. Conseguimos também a doação de 10 hectares de terra, que já está em nome da associação Alto do Bom Jesus. Se deu certo lá em Santa Cruz, que não tem as nossas belezas naturais, com certeza o nosso monumento será uma grande referência dentro do Estado”, concluiu.
O prefeito de Touros, Pedro Filho, disse que está à disposição para apoiar e correr atrás das condições para que a obra seja concluída.
“É uma luta grande. Todos sabem que os municípios passam por muitas dificuldades, mas com a união entre Executivo e Legislativo tudo fica mais fácil. Nós já fomos a Brasília e nos reunimos aqui com os deputados estaduais. E vamos continuar em busca do nosso objetivo, espelhando-nos sempre no exemplo de Santa Cruz”, enfatizou.
De acordo com o Padre Bianor, Pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Apresentação (antiga Catedral), em Cidade Alta, “o turismo religioso não se trata apenas de passeio, mas também de fé. É um encontro com a crença”.
Segundo o pároco, é preciso cuidar também do patrimônio histórico dos municípios como um todo.
“O turista – religioso ou não – vem para cá e muitas vezes se depara com os prédios sucateados e expostos à insegurança. Isso causa um afastamento ou até mesmo uma desistência de vir para cá, o que poderia ser evitado com a simples revitalização dos nossos espaços históricos. Mas as autoridades ficam jogando a responsabilidade umas para as outras”, lamentou.
Para o coordenador do projeto “Seridó, Fé e Tradições”, Diego Vale, as pessoas que vão em busca do turismo religioso estão atrás de algo muito forte. “Elas querem uma experiência de vida. Por isso é uma área tão importante, que envolve também o nosso patrimônio histórico”.
Falando sobre a conexão da marca do projeto com o turismo religioso, Diego Vale ressaltou que a própria atividade é “expressão de fé, que faz arder o coração, que tem identidade e é algo plural”.
“Nós não colocamos nenhum elemento do catolicismo, pois quisemos mostrar que não estamos limitados à religião Católica, e sim, que somos simplesmente expressão de fé”, acrescentou.
Em seguida, o coordenador fez uma explanação sobre o projeto, que é de iniciativa da Diocese do Seridó, em conjunto com UFRN, Sebrae, Emprotur e outros 15 municípios da região, e tem por objetivo desenvolver um roteiro de turismo religioso e cultural.
“Temos que entender a importância do patrimônio cultural, tanto material quanto imaterial, inspirando-nos nas premissas do hibridismo religioso. Ademais, é preciso profissionalizar todas as pessoas que estão na cadeia do Turismo, para atender melhor e fazer bons negócios”, finalizou Diego Vale.
Também presente ao debate, o deputado Hermano Morais (PV) ressaltou a relevância econômica do Turismo para o Estado.
“Este é o segmento que mais gera emprego e renda, de forma direta e indireta, no Rio Grande do Norte. No entanto, esse movimento ainda é muito insipiente, se considerarmos o potencial que temos por todo o Estado. Então, precisamos pensar em como cada município pode atrair mais e mais pessoas, tanto do RN quanto do resto do Brasil e do mundo. Portanto, esse assunto deve ser tratado com mais ênfase pelas secretarias, em parcerias com as instituições privadas”, finalizou o parlamentar.
Segundo o prefeito de São Gonçalo, Eraldo Paiva, o turismo religioso é fundamental para contribuir com a geração de emprego e renda, além do desenvolvimento geral do Estado.
“Nós temos um Estado bem estruturado em termos turísticos, com vários destinos, de norte a sul, além de uma rede hoteleira imensa. Então, com certeza nós temos o que mostrar para qualquer turista, tanto do Nordeste quanto do resto do Brasil”, disse.
Ele destacou o exemplo de Santa Cruz, enfatizando a importância de se mostrar que o turismo religioso existe e é parte da nossa Economia.
“Para isso, é importante que a gente comece a mensurar e a catalogar os nossos inúmeros movimentos, como a Festa de Sant’ana, de Santa Luzia, dos próprios Mártires, para que possamos incentivar cada vez mais essa atividade no RN”, acrescentou.
O prefeito falou ainda que está trabalhando num projeto ousado, que chamou de “Passeio dos Santos Mártires”.
“A ideia é partir do Porto do Flamengo, em São Gonçalo, até o Museu da Rampa, em Santos Reis, Natal. Será mais um roteiro turístico importante para o Estado. Inicialmente, temos uma dificuldade com a altura da Ponte de Igapó. Mas, quando construirmos a ponte de São Gonçalo a Natal, já faremos numa altura maior, para não haver problemas”, finalizou.
A secretária de Turismo de Santa Cruz, Marcela Pessoa de Souza, iniciou sua fala enaltecendo a importância do Santuário da padroeira para o desenvolvimento do município e de toda a região circunvizinha.
“Santa Cruz está quase completando 11 anos do Santuário de Santa Rita de Cássia, que foi inaugurado em 26/06/12. A obra aconteceu graças ao despertar do prefeito Tomba, hoje deputado estadual. E hoje, quem passa pelo Trairi e vai para o Seridó observa o desenvolvimento não só de Santa Cruz, mas de toda uma região”, enfatizou.
Para Marcela de Souza, que está à frente da pasta desde antes do santuário, o Turismo se faz cuidando da infraestrutura básica da cidade, como calçamento, saneamento, recapeamento das vias de acesso, investindo em saúde, educação e segurança da população, bem como tendo o apoio do empresariado.
Ao final da sua fala, a secretária convidou todos a comparecerem à Festa de Santa Rita de Cássia, que acontecerá entre os dias 13 e 22 de maio, praticamente dobrando a população da cidade, com quase 80 mil pessoas nas ruas.
De acordo com a representante da Secretaria de Turismo do Estado, Nayara Cristina, pelo segundo ano consecutivo, o RN está entre os destinos mais visitados do Brasil, no ranking dos operadores.
“Só em 2020 e 2021, mais de 10 mil agentes de viagem foram capacitados em representações online sobre os nossos destinos. Além disso, a nossa participação em eventos não é só institucional; a gente aproveita para mostrar aos agentes como eles podem vender o nosso produto turístico do interior, aproveitando o interesse dos turistas no nosso litoral”, detalhou.
Nayara Cristina disse ainda que, desde o ano passado, está sendo feito um processo de interiorização do turismo potiguar.
“E, para concluir, quero deixar claro que atrativo não é produto turístico. A gente promove o que é produto turístico, pois não podemos queimar um destino. É preciso ter qualidade na prestação do serviço e infraestrutura adequada”, finalizou.