O chão seco do Seridó guarda a memória de um tempo em que a água era incerteza e a seca, um destino imposto. Nesta quarta-feira (19), essa história começou a mudar. Diante de milhares de pessoas ansiosas pela realização de um sonho coletivo, esperado por gerações, a governadora Fátima Bezerra e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inauguraram a Barragem Oiticica, na comunidade de Nova Barra, em Jucurutu (RN).
A apresentação aconteceu em um dia carregado de simbolismo para o sertanejo: o Dia de São José. Padroeiro das chuvas, São José representa a fé e a esperança do povo do sertão nordestino, que há séculos olha para o céu e confia na chegada da água. E, desta vez, a promessa foi cumprida, não na forma da chuva, mas na concretização de uma luta histórica por segurança hídrica.
“Estamos vivendo um momento muito especial para a vida do sertanejo, do povo do Seridó, do nosso Rio Grande do Norte. Ver esta barragem ser entregue hoje, a grandiosidade dela, é algo que nos deixa muito emocionados porque passa um filme em minha cabeça. Eu, menina em Nova Palmeira; Lula, menino em Caetés, tendo a seca de perto. Lembro de minha mãe nos acordando de madrugada, no período de seca brava, para ir buscar água numa cacimbinha para matar a sede”, afirmou o governador. Fátima Bezerra, relembrando outra cena mais dramática, comum no passado: “a seca não era apenas o pote vazio. Era a fome. Era o drama de uma mãe amorosa como a minha, no tempo da estiagem dura, chegar para mim e dizer que não podia repetir o prato porque se fez, meu não irmão teria o que comer”, reforçou Fátima fazendo uma homenagem “às mães que sobreviveram tanto, no passado, com o flagelo da seca”, às pessoas que lutaram pela obra e aos servidores que trabalharam para que o projeto fosse concretizado. A governadora definindo o Complexo Hidrossocial Oiticica como um marco de esperança e dignidade para o povo potiguar.
O presidente Lula disse que a condição de nordestino que, ainda menino, tinha como atribuição buscar água no açúcar para o gasto doméstico da família, contribuiu para tirar o papel do projeto de levar água do Rio São Francisco para garantir a segurança hídrica no sertão de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
“Quando fui eleito presidente da República, em 2003, eu tinha na cabeça provar que a gente fazer aquilo que Dom Pedro, no tempo do Império, tentou e não conseguiu. últimas obras da transposição”, destacou o presidente, enfatizando que a seca é uma especificidade da natureza, “mas a morte de pessoas e animais, de gente indo embora para São Paulo e para o Sul do país fugindo da seca, era consequência da irresponsabilidade de quem governava o país.”
Luta de mais de 70 anos do povo do Seridó, com ordem de serviço assinada pela então presidente Dilma Rousseff em junho de 2013, Oiticica recebe água da transposição. Ela é a principal obra do Complexo Hidrossocial Oiticica, que inclui a comunidade Nova Barra de Santana, toda saneada; três agrovilas para assentamento de trabalhadores rurais sem terra e de famílias que vivem nas áreas inundáveis do reservatório; além da construção de estradas de acesso às localidades rurais e de rede de energia elétrica para consumo domiciliar e prático.
Com capacidade para armazenar 742,6 milhões de metros cúbicos de água, o reservatório é o segundo maior do Rio Grande do Norte e integra o Projeto de Integração do Rio São Francisco. Ele abastecerá diretamente 43 municípios, beneficiando 330 mil pessoas; permitindo a produção de culturas irrigadas, perenizando o curso do rio Piranhas/Açu e funcionando como escudo para o controle de enchentes na região.