O dia em que o sertão de Caicó transformou-se num grande oceano pacífico
Se 15 de novembro estava marcado no calendário o feriado da proclamação da república, a sociedade caicoense marcou este dia como sendo também o ‘Dia da Paz’ em nossa cidade.
Há quase trinta dias o jornalista F.Gomes foi brutal e covardemente assassinado enquanto estava sentado na calçada da sua casa, ouvindo rádio. Mas nesta tarde de um feriado sem celebrações, Caicó se levantou, tirou as vestes pretas do luto e da dor, vestiu-se de branco e entoou o canto da paz percorrendo as ruas da cidade: “paz, nós queremos paz”! Uma multidão de cerca de cinco mil pessoas cantava emocionada e firme, acenando lenços brancos, como se fossem garças cortando o céu. Momento que só se comparou as procissões de Sant´Ana, que tem o mesmo sentimento de amor fraternal e paz.
Adultos, crianças, idosos, todos foram colocar sua gota branca de paz e as ruas de Caicó pareciam um rio branco que desaguava na Ilha de Santana transformando-se num grande oceano pacífico, literalmente.
Acostumados a causas nobres, os caicoenses e seridoenses se deram as mãos e, juntos, como não se via há anos na nossa pacata cidade de outrora, Caicó acordou do luto, levantou-se e foi pra rua lutar da única forma que sabe: pacificamente. Foi pra rua usando a única arma que aprendeu a manusear: o amor.
E 15 de novembro de 2010 foi o dia em que Caicó mostrou de uma vez por todas e para sempre que a voz de F.Gomes jamais irá calar! E 15 de novembro de 2010 entrou para a história como sendo o dia da proclamação da paz em Caicó!
Por Suerda Medeiros em 15/11/2010
As fotos abaixo, foram feitas nesta caminhada. Outras no estúdio da Rádio Caicó, onde F.Gomes deixou no ar sua última voz. Nós, seus colegas, desolados. Nas fotos: Eu, Marcos Dantas, Rosivan Amaral, Sidney Silva. Sem chão, vozes embargadas, sensação de morte. Uma dor que sentimos há 12 anos e parece ter sido ontem.
O povo nas calçadas pedindo justiça pelo assassinato de F.Gomes
Missa na Igreja de São José e, em seguida, caminhada pela paz pelas ruas de Caicó até a Ilha de Sant’Ana, onde ocorreu ato pela paz e justiça.
Esta foto é a que podemos cantar: “naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim”. A cadeira vazia, o microfone desligado e nós, seus colegas de rádio, desolados: Marcos Dantas, Rosivan Amaral, Sidney Silva e eu, Suerda Medeiros. No dia da morte de F.Gomes, nenhum de nós conseguiu falar. No dia seguinte, nos demos as mãos, unimos nossas forças e fomos falar ao povo de Caicó e, a partir daí, pedir justiça.
A cadeira e o vazio. O microfone e o silêncio.
F.Gomes, um radialista que Caicó nunca mais terá igual.